quinta-feira, 25 de junho de 2009

"It's not so serious" - David Bronstein (Cordoaria, Lisboa - 1997)




Num comentário "Sobre livros de xadrez" (post 19 de Junho) o Rato do Alekhine conta-nos como foi difícil conseguir um autógrafo de David Bronstein durante a sua visita a Lisboa em 1997.
Tive a mesma experiência. Não apresentei (como o Rato) um livro novo para autografar, o meu livro "200 Open Games" era do início dos anos '70 (ver imagens, clicar para ampliar). Por isso o Grande Mestre não tinha o argumento:"é melhor não estragar o livro" como no caso do Rato.
Ele disse-me simplesmente: "Ya bolen!" - "Estou doente!".
Mas insisti: "I like this book very much"(verdade). "It was my first chess book" (mentira). Funcionou, Bronstein autografou o livro, mas disse ao mesmo tempo: "You know, it's just a game, it's not so serious!"
E se um ex-vice-campeão do mundo afirmar uma coisa destas, quem somos nós...(como escrevi no meu primeiro post no blogue "Salto de Cavalo" em Março 2005) http://gxalekhine.blogspot.com/2005/03/introduo.html

19 comentários:

disse...

Olá Marinus,

li o teu post, e na verdade, tive a curiosidade de ler esse livro. Mas...
como sei que sozinho talvez me custe, por causas múltiplas, seria uma boa ideia fizer-mos a leitura aqui, em forma de posts. Página por página. Uma leitura pública, das de antes...
Ao não dominar o Inglês, também seria um aliciante para começar a "mexer" nos dicionários...
Enfim, é uma ideia, claro. Uma ideia que faz algum sentido.
Abraço

Anónimo disse...

Fui confirmar a assinatura. Afinal a caligrafia não é tipo máquina, é igualzinha à do livro do Mestre Luyks. Tinha uma impressão errada (muitos anos passados), e já estava a difamar sem razão.

O Bronstein concordaria certamente com o Pessoa...

Na final do torneio de rápidas dessa semana, obtive o meu melhor resultado de sempre. Derrotei o António Fernandes em vinte e poucos lances com mate no meio do tabuleiro.
Saldo 1-0. Espero nunca mais jogar com ele, para não partir esta delicada porcelana...

Os adeptos por vezes entram em campo, e estragam o jogo!

Rato do Alekhine

disse...

Olha este link, Hugo, entre tantos livros que há, este não é um livro especializado, senão todo o contrário. O autor, é paisano do Rini Luyks, como não podia ser de outra maneira...:)

http://www.scribd.com/doc/11838804/Max-Euwe-Walter-Meiden-El-Camino-Hacia-La-Maestria-Spanish

Anónimo disse...

Melhor que uma sugestão, é mesmo um livro. Pelo índice parece muito interessante. Obrigado pela prenda Alberto. Espero que não dê prisão!

Rato do Alekhine

Anónimo disse...

Uma minibiografia de Bronstein e a descrição de uma outra aventura para obter um autógrafo seu podem ser encontradas em

http://lusoxadrez.forumvila.com/viewtopic.php?f=1&t=357

Dervich

Anónimo disse...

Caro Castanheira, esse brilhante texto é emocionado e emocionante. Grande homenagem. Parabéns pela crónica e pelo amigo conquistado.

Rato do Alekhine

Renatus disse...

Não posso deixar de deixar o meu pequeno comentário (desculpem o pleonasmo).
Não concordo muito, para não dizer nada com as afirmações do Bronstein, nomeadamente da afirmação "it's just a game". Quantos de nós sabemos o poder de certos jogos na realidade, vidé o caso do futebol. Os jogos às vezes são tão importantes que se tornam parte da nossa realidade, embora entenda igualmente o que ele quis dizer e que tem a ver com a importância de se relativizarem as situações.
Por outro lado quando afirma:
"A vida não é como o xadrez porque, nos limites do tabuleiro, existem quatro muros que limitam os movimentos das peças e que impedem que um rei acossado possa fugir.
Pelo contrário, na nossa vida não há muros, não há limites..."
Estou completamente em desacordo, se há coisa que nós temos na vida são limites, a começar na própria vida e a acabar na mesma.
Realmente o Bronstein não é um dos meus ídolos e acho que a recusa de dar autógrafos é no mínimo antipática.
Jogava muito bem xadrez, aí estamos de acordo...

Anónimo disse...

Reinato,

Dizes tu que "Não concordo muito, para não dizer nada com as afirmações do Bronstein, nomeadamente da afirmação "it's just a game".

No entanto, na resposta a um post do jogo Brasil-Argentina (12-06), disseste assim:

"O futebol tal como o xadrez são fugas à nossa existência tantas vezes rodeada de aborrecimento e dôr, mas apenas isso, são motivos para passar um bom tempo e esquecer outras chatisses agora quando passam a ser mais importantes que a própria vida, ou que substituem a própria vida eu coloco-me de lado."

Portanto, tal como Bronstein, demonstras que a contradição é parte integrante de cada um de nós...

Quanto aos limites da vida resta saber até que ponto eles são concretos e não auto-impostos por nós próprios, tal como o demonstram os exemplos de quem, contra todas as expectativas, conseguiu vencer as maiores adversidades, apesar da pobreza, doença, deficiência, etc, etc...

Agora há coisas que não têm remédio, claro está, e "o que não tem remédio remediado está", nisso estamos de acordo...

Dervich

Rini Luyks disse...

Penso que a maneira de Bronstein ver o jogo de xadrez mudou radicalmente após o seu match contra Botwinnik em 1951, onde ele esteve muito perto do título mundial (empate 12-12).
Escrever o livro "200 open games" com comentários ligeiros, às vezes jocosos, deve ter sido quase um divertimento para ele.
Eu gosto do estilo, acho que não há menosprezo por causa da frustração de ter falhado o título (o que podia ser uma reacção óbvia). Vou mudar o título do post: acho melhor acentuar o "It's no so serious" do que "It's just a game"!

Alberto, envio-te algumas páginas do livro por mail. Transformar aqui o livro em posts, não sei...

A obra máxima dele é sem dúvida o livro sobre o Torneio de Candidatos em Zurich 1953.

Renatus disse...

Olá Castanheira
Eu tenho as minhas contradições, nunca o neguei, de qualquer forma em relação à primeira afirmação dele entendo-a como a necessidade que existe de relativizar o jogo, ou seja é importante dar um valor relativo às coisas.
Agora eu posso ser muita coisa menos hipócrita, se tu fores jogador de xadrez profissional e o teu rendimento vier do xadrez, não vais depois dizer "it's just a game".
O Ronaldo em relação ao futebol e aos milhões que ganha, não vai dizer "it's just a game".
Eu diria "it all depends where you stand".
Tudo depende se és espectador ou és actor.
Para um espectador, "it's just a game" entendo, agora para um actor (ainda mais com a estatura do Bronstein) soa mal.
Quando ele diz "Pelo contrário, na nossa vida não há muros, não há limites..." isto é um perfeito disparate, nem dá para comentar muito, todos temos limitações, não as querer reconhecer é fugir à realidade.
Também é verdade que há pessoas que se auto-limitam, ou seja têm mais capacidades do que imaginam, mas isso é uma história completamente diferente, possivelmente é destes limites que ele fala, mas mesmo esses são bem reais.
Garanto-te que sei bem do que falo, agora eu posso é querer romancear e escrever uma frase bonita.
Já agora o meu ídolo xadrezista é o Bobby Fisher, não posso deixar de reconhecer contudo, salvaguardando o respeito por alguém que está morto, que inúmeras afirmações dele eram um pefeito disparate, para não dizer pior.
Não consta porém que fosse tão esquisito a dar autógrafos

disse...

Esta questão, levada ao titulo deste post, parece que se tem congelado, embora, sem ter sido esgotada (provavelmente, porque é infinita)
No entanto, acho muito importante remarcar a discordante opinião do Renato. O seu ponto de vista, se formos mais longe, e corrijam-me se me engano, está no desejo de analisar tamanha posição filosófica do grande xadrezista soviético. Quero por tanto, ponderar essa vontade do Renato de não se conformar com as "verdades" ditas, sem antes tentar de comprova-las, ou refuta-las, através de já conhecido pensamento crítico. É como se o Renato estivesse a solucionar um problema de xadrez. Em isso, eu tenho uma opinião semelhante à dele.
Contudo, se olhamos para aquilo sem animo de tomar posição alguma, senão com o intuito de discernir, PORQUE é que um super GM chegou àquela conclusão, para muitos, produto da sua frustração insatisfeita de ter estado tão perto de chegar a ser Champion of the World, e para outros, uma posição duma pessoa que ultra-passou os limítes dos convencionalismos, chegando a comprender alguma verdade... Lógicamente podemos inundar estas páginas de teorias e suposições. Nisso, se calhar não me diferenciaria de mais um "opinologo", em sugerir aos que cá expuseram algum ponto de vista o seguinte:

Se um dia, alguém de nós passasse por uma situação parecida com aquela pela que passou o grande Bronstein, talvez, e só talvez, poderíamos trocar alguma impressão, aludindo "igualdade de condições", coisa que, sinceramente, acho impossível, já que não há duas situações iguais, mesmo que sejam parecidas, que possam "recriar" aquela sequência de situações, que há quem chama Vida, para que um determinado individuo forme tal ou outra opinião intransigente, tendo chegado a ela através da sua própria, única e intransferível experiência, que não poderia partilhar, nem escrevendo mil livros de memórias, porque a memória de cada um, idem a vida de cada um de nós, na sua fiel totalidade, é só propriedade desse único individuo, que a irá levar consigo, até ao final dos seus dias...

Renatus disse...

Bom comentário Alberto.
És bom observador, acho que me entendeste bem, de facto eu tenho um elevado espírito crítico e não aceito afirmações que não me façam sentido, ou seja toda a informação (ou quase toda, não quero exagerar) que me é fornecida, está sempre a passar por um crivo, até há quem me ache desconfiado devido a estar sempre a pôr tudo em causa.
De resto não tenho nada em particular contra o Bronstein, irritou-me apenas a questão dos autógrafos.
A asneira e o disparate são livres, e aqui me incluo, não me acho detentor da "VERDADE".
Isto lembra-me outro post...
A discussão, quando aberta e franca, sem ofensas mas com discordâncias, só nos faz evoluir.

um grande abraço

disse...

Sabes, Renato, isto de pores em dúvida o que te soar a inexacto ou directamente a falso, acompanha uma recente conversa minha com um amigo argentino que, através da ironia, também fez-me sentir que o que todos nós opinemos, mesmo tendo sido argumentado, nem sempre é credível à vista de outra gente. Se calhar, porque é a nossa natureza humana que condiciona esta recorrente situação...
De facto, vou fazer um post ao respeito, baseado sobre uma canção dum pensador contemporâneo russo, as letras da qual acabo de traduzir ao catelhano mais ou menos literalmente...a
canção se chama...

Anónimo disse...

Naturalmente o que o aleg referiu faz todo o sentido, as afirmações de cada um são o produto irrepetível e intransmissível das suas experiências pessoais e únicas, pelo que aqui apenas podemos especular sobre as razões da frase que deu o título ao post.

A questão de "ficar mal" a um profissional desvalorizar a sua actividade pode fazer sentido...mas se pensarmos que essa actividade (mesmo com o êxito conhecido) só deu para ter um T1 em Moscovo, um fato novo e uma pensão mínima, e que, mesmo assim, essa retribuição ainda era superior (proporcionalmente) ao que se obtinha na época no Ocidente, é natural que aos 73 anos se sinta vontade de relativizar as coisas...

Aliás, podemos perguntarmo-nos porque razão o MI José Pinheiro, sendo olímpico, preferiu omitir essa actividade quando interrogado se praticava algum desporto num concurso de televisão...deve ter pensado:
"well, what the heck - it´s just a game.."...
Bem mas ok, ele não é, em rigor, profissional de xadrez.

Quanto ao mais Reinato, é curioso que um dos defeitos que normalmente mais me apontam é o de ser demasiado racional, céptico, pôr tudo em causa, precisar de encontrar uma razão para tudo, etc

E esta, hein?

Dervich

Renatus disse...

Dervich,
Isso não é defeito, é feitio!

Ainda em relação ao Bronstein, se fores a:
http://en.wikipedia.org/wiki/David_Bronstein

podes ler:
"Described by peers as a creative genius and master of tactics, Bronstein continually delivered convincing evidence that chess should be regarded as part science, part art."

O "it's just a game" dificílmente se encaixa aqui, esta desvalorização, soa a desilusão por algo não atingido.

O Bobby Fischer dizia "Chess is life" e o Kasparov escreveu um livro com o título "How Life Imitates Chess"

Ao menos esses não desmerecem o nobre jogo.

Já pensaram acerca da atitude de não dar autógrafos, como se quisesse demarcar das suas obras...
Mais uma confirmação da sua desilusão pelo xadrez, possivelmente na sua fase final de vida.

disse...

É discutível que a desilusão pelo xadrez do Bronstein tenha sido o seu motivo principal para ficar pouco receptivo quanto aos pedidos de autografar os seus livros... Mais desilusão pela humanidade pode-se encontrar nas declarações de Saramago...

Renatus disse...

sim tens razão, escrevi xadrez mas queria dizer vida, embora no caso dele as duas coisas se confundam

Rini Luyks disse...

Realmente, eu não esperava uma discussão tão acesa acerca das palavras de Bronstein, há vida na blogosfera, como costumo dizer!
Até comecei a ter dúvidas em relação à minha memória, mas acho que Bronstein disse (em 1997) mesmo as palavras que escrevi.
Entretanto encontrei um possível esclarecimento na necrologia que o GMI holandês Hans Ree escreveu na revista "New in Chess" 2007/1.
Vou copiar uma página num próximo post (sem pedir autorização...)

Jesus, Luiz disse...

Talvez ele não gostou de autografar porque não escreveu o livro apenas emprestou o nome, é uma variante possível.