sexta-feira, 29 de maio de 2009

Três pré-Alekhinistas em Ceuta 2000


Hoje um post "Notícias de África" no blogue "Anacruses" fez-me lembrar uma viagem de três (na altura ainda não, por isso pré-) Alekhinistas até Ceuta, onde se disputou no ano 2000 um torneio de xadrez entre cidades geminadas de Marrocos, Espanha e Portugal.
O quarto elemento da equipa era o saudoso autarca Rui Saraiva, o nosso "team-captain".Na foto encontramo-nos no restaurante "Al Andalus", vestidos com os indumentos apropriados para o momento solene. Lá o ritmo da vida é diferente, o almoço estende-se por toda a tarde.
Para o leitor interessado: um relato com alguma ficção pelo meio em http://anacruses.blogspot.com/2007/10/ceuta-2000.html .
A música mais ouvida durante a viagem (de carro) Lisboa-Sevilha-Tarifa era "African Reggae" da "Nina Hagen Band" que eu tinha gravada umas cinco vezes seguidas numa cassete...

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O objecto no topo é um narguilé ou cachimbo de água, fumado em ambiente pacífico por pessoas que se querem bem. A aparição deste objecto aqui implica da minha parte um voto de esperança em relação a um "assunto pendente de foro íntimo do clube" :) ...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Evgeny Kissin plays Siciliana (Johann Sebastian Bach - Kempff)



Eis mais uma prova da ligação entre o Xadrez e a Música...
Esta Siciliana do Grande Mestre Bach, creio que começou assim:

A. Musa - J.S. Bach

1.e4 c5; 2.Cc3 Cc6; 3.g3 e6; 4.Cge2 Cf6; etc...

e terminou assim: 0-1

Está mesmo na Base!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Torneio GXAlekhine da Primavera 2009 (ou nenhuma surpresa :)

Edifício do GD Ramiro José, com o prédio
velhote atrás---
















vista ao pátio de atrás desde a sala do jogo...


Terminou ontem nas magníficas instalações do Grupo Dramático Ramiro José (ver a 1º foto panorâmica), O Torneio GXAlekhine da Primavera 2009, do qual saiu merecidamente vencedor, com o 100% dos pontos, o bem conhecido no nosso ambiente, ainda jovem valor, o Carlitos Carneiro, confirmando na prática o seu teórico favoritismo.
Há algum tempo Carlos decidiu voltar mais assiduamente ao xadrez de competição 
e já podemos ver que a coisa vai a serio. Há que reconhecer também que o triunfo do Carlos não foi "grátis", devido aos esforços do jovem valor João Simões, que fez trabalhar ao Campeão na última ronda, sendo o jogo deles o último em acabar. Quanto ao Pedro Rego (2º jogador melhor cotado do torneio), pessoalmente acho que se ele não se apressasse, e se concentrasse mais, nada lhe impediria chegar a ser um jogador mais regular, já que força não lhe falta.
Aproveito este espaço para felicitar ao Carlos Carneiro, e a todos os que lutaram e fizeram o seu melhor!
No que respeita ao meu desempenho, devo admitir que vários dos meus rivais, nomeadamente o Alfredo Videira, Alberto Mendes, Carlos Sirgado e Pedro Rego me tiveram compaixão, ao não aproveitarem as minhas não poucas imprecisões. Ainda bem que o Campeão foi a excepção, dando-me uma lição de aberturas.
A arbitragem do Amadeu Solha Santos e o amicíssimo e incorruptível Altino Costa, que lhe deu uma mão foi, como é costume, exemplar, embora devido ao total Fair Play dos participantes, aquilo não foi difícil de alcançar.
Os resultados do Torneio podem-se ver no chess-results

Já agora, quero confessar que este post tem mais um propósito.
Desde as janelas das luminosas e novíssimas instalações do GD Ramiro José, que dão ao pátio traseiro, pude vislumbrar um Velho Prédio, que está ali, todo paciente, à espera da eternidade. Chamou-me a atenção um detalhe: as persianas incrustadas por um pedreiro-artista directamente no reboque, como que congelando um espaço de tempo, esse tempo que é tão veloz...













segunda-feira, 25 de maio de 2009

A procura da Verdade ( Verdade verdadinha )



Caros amigos, eis estou cá a escrever algo totalmente diferente do que tenho preparado sobre este assunto filosófico. A minha decisão deve-se em parte às mesmas razões que as do Rui, quando ele disse no seu post sobre o Valor de PI não estar preparado para discutir sobre aquilo, e em parte porque simplesmente não me apetece discutir :).

Em resumo, quero cá pôr a questão frontalmente, a ver se os caros amigos colaboradores e leitores dão-me uma ajuda. (e se calhar a si próprios também)

 

Há algum tempo surgiu-me um problema idiomático. Repentinamente não consegui encontrar um sinónimo de peso para a palavra “verdade” nas línguas romances, nomeadamente no Castelhano e o Português.

 O problema é que como geralmente ouvimos dizer que há muitas verdades, resulta-me ainda mais curioso que não haja nenhum sinónimo “a serio” para tamanha palavra. Não será que Ela (a verdade) é mesmo uma?

De facto, não sei como será nas outras ainda numerosas línguas do mundo, mas o Russo, que eu saiba, sim tem aquele sinónimo mesmo a serio, tão a serio é que define e incluso explica muito melhor que a própria palavra “verdade” a sua essência conceptual, sempre através  da Analogia.

Aliás, para facilitar um bocado, partilho o meu único achado de importância dentro do Português. É a palavra “genuinidade”. 

Haverá mais?


sábado, 23 de maio de 2009

Revista Portuguesa de Xadrez nº 4!?


Olhando para esta imagem (sem texto para acompanhar) no site da FPX penso que o novo número da revista RPX estará prestes a sair!
Dez meses(!) depois do nº 3, é verdade, mas uma das explicações deve ser o revés da demissão em Janeiro do editor MI Paulo Dias.
Agora fiquei curioso acerca do conteúdo, para já só há três frases na capa:
- Normas para Rúben Pereira e Ana Baptista nas Olimpíadas;
- Final do Torneio de Candidatos (deve ser um artigo sobre os planos da FIDE para mudar o cíclo do Campeonato do Mundo, anunciados nessas mesmas Olimpíadas em Dresden, Novembro 2008);
- Novo regime jurídico das Federações Desportivas.
Por agora mais nada, nem no site da FPX, nem no blogue da revista: http://revistapxadrez.blogs.sapo.pt/ .
É aguardar e espreitar a caixa de correio.
No entanto, a capa da revista eu já conhecia: é a imagem que usei há três semanas para anunciar o campeonato da nossa equipa na 2ª Divisão C!
Como costuma dizer o nosso contribuidor Alberto: "Nada é por acaso!"

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Número de Shannon




Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Número de Shannon (10^120) é uma estimativa da complexidade de jogo do xadrez. Ele foi calculado pela primeira vez por Claude Shannon, o pai da teoria da informação.
De acordo com ele, em média, 40 movimentos são feitos no jogo de xadrez e cada jogador escolhe um movimento entre 30 (embora possam haver menos movimentos, bem como nenhum - como no caso do xeque-mate ou empate - ou muitos como 218). Entretanto, (30×30)^40, isto é, 900^40 jogos de xadrez são possíveis. Este número é aproximadamente 10^120, valor que se obtém ao resolver a equação: 900^40=10^x que é x=40×log 900.
A complexidade do xadrez é actualmente avaliada em aproximadamente 10^123 (o número de posições legais no jogo de xadrez é estimado entre 10^43 e 10^50). Como comparação, o número de átomos no Universo, com o qual é frequentemente comparado, é estimado entre 4×10^78 e 6×10^79

Daqui se tira a conclusão evidente. de que o trabalho que Deus teria em resolver o jogo de xadrez, seria no mínimo semelhante áquele que teve em fazer o universo.
Atrever-me-ia mesmo a dizer, que colocado perante as duas tarefas, Ele preferiu o universo, sempre era um pouco mais fácil...

O valor de PI

Recentemente no meu trabalho deparei-me com o problema de calcular o valor de PI.

Claro que todos sabemos da instrução básica que o valor de PI é uma dizima infinita não periódica, e como tal impossível de representar no sistema de numeração decimal.

Ainda assim, existem programas para calcular a aproximações cada vez mais exactas desse valor - milhões e milhões de casas decimais.... sem nunca chegarem perto da representação correcta de PI - porque esta tem simplesmente um número infinito de casas decimais, e por mais milhões que calculemos, nunca vamos sequer chegar perto do infinito.

Algo parecido se passa no Xadrez. O Xadrez além de um jogo é uma ciência, no sentido em que é possível descobrir "leis" e "regras" cada vez mais exactas sobre o jogo. É possível descobrir a verdade sobre certas posições - qual é o resultado com jogo correcto e quais as jogadas correctas para atingir o resultado.

Ao contrário do número de casas de PI, o número de posições possíveis num jogo de Xadrez é finito, se bem que astronómico - o que põe a questão de se será possível, na prática, resolver o jogo do Xadrez, isto é, para quaquer posição poder determinar qual o resultado e a sequência de jogo correcta.

Seja possível ou não, hoje ainda estamos muito longe disso. No entanto não é isto o mais importante, nem o que mais me fascina no Xadrez ciência - o que eu acho realmente importante é a procura da verdade. A procura pessoal da verdade, em qualquer campo da ciência ou da vida, é o único método de desenvolvimento pessoal que realmente dá
resultados.

Podemos aprender por livros, por professores, por computadores, internet etc. Mas se não questionarmos as verdades feitas e desenvolvermos as nossas próprias aproximações da "verdade" nunca conseguiremos evoluir - conseguiremos apenas ser um reservatório de frases feitas e lugares comuns.

O conhecimento geral cientifico, a aproximação colectiva da "verdade", é sempre feito questionando as verdades actuais de forma a refiná-las e a produzir novas aproximações da "verdade" mais próximas da verdade "real".

Se a verdade "real" existe ou não é um problema filosófico que não estou preparado para discutir. O valor de exacto de PI é infinito logo impossível de calcular. O jogo do Xadrez é finito, e tenho a certeza possível de resolver, dado o engenho humano, que hoje tem o apoio da tecnologia cada vez mais poderosa. Quanto a outros problemas, não sei, mas procurar a verdade com sentido crítico e espirito aberto, parece-me ser o essencial em qualquer questão.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A un gato - Jorge Luis Borges



No son más silenciosos los espejos
ni más furtiva el alba aventurera;
eres, bajo la luna, esa pantera
que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
divino, te buscamos vanamente;
más remoto que el Ganges y el poniente,
tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
caricia de mi mano. Has admitido,
desde esa eternidad que ya es olvido,
el amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás. Eres el dueño
de un ambito cerrado como un sueño.


(Imagem do filme: "Estória do Gato e da Lua", a ver em: http://anacruses.blogspot.com/2009/04/o-gato-e-lua.html )

Homenagem a Fernando Pessoa


Não quero igualmente deixar de prestar a minha homenagem ao grande escritor Português, Fernando Pessoa, aqui assinando pelo seu heterónimo (Ricardo Reis)

Ouvi Contar Que Outrora

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
A sua indiferença.

Ricardo Reis - Odes de Ricardo Reis

Xadrez de Jorge Luis Borges


Ao pesquisar dados sobre o que vou publicar a seguir, encontrei-me com um post no Blogue dum dos nossos colegas do GXA, o Sr. José Fernandes dos Santos, onde ele já tem falado sobre uma das obras deste consagrado e para muitos genial escritor universal de origem argentina.
 Estou a falar de Jorge Luis Borges, quem disse alguma vez entre tantas outras sabias coisas: " Há quem esteja orgulhoso pelo que tem escrito. Eu estou orgulhoso pelo que tenho lido ".
E eu, por tanto, estou orgulhoso por ter lido e relido este Poema:

Xadrez
 I
Regem no seu recanto os jogadores 

As lentas peças. Esse tabuleiro 
Demora-os toda a noite no severo 
Âmbito em que se odeiam duas cores. 

Dentro irradiam mágicos rigores 
As formas; torre homérica, ligeiro 
Cavalo, sagaz dama, rei postreiro, 
Bispo oblíquo e peões agressores. 

E quando os jogadores tiverem ido, 
Depois do tempo os ter já consumido, 
Decerto não terá cessado o rito. 

No Oriente incendiou-se esta guerra 
Cujo anfiteatro é hoje toda a terra. 
Como o outro, este jogo é infinito.

II

Ténue rei, sesgo bispo, encarniçada 
Dama, torre directa e peão ladino 
Sobre o negro e o branco do caminho 
Buscam e travam a batalha armada. 

Não sabem que a mão assinalada 
Do jogador governa o seu destino, 
Não sabem que um rigor adamantino 
Lhes subjuga o arbítrio e a jornada. 

Também o jogador é prisioneiro 
(Frase de Omar) de um outro tabuleiro*
De negras noites e de brancos dias. 

Deus move o jogador que move a peça. 
Que deus atrás de Deus o ardil começa 
De pó e tempo e sonho e agonias?

*A vida é um tabuleiro de xadrez, onde O Destino nos move como peões, dando mates com castigos, quando termina o jogo, nos tira do tabuleiro e nos lança a todos na caixa do Nada. 


(Omar Khayyam, matemático, astrônomo e poeta persa)

(tradução portuguesa UNL)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sergei Paradjanov, criador (1924 - 1990)


Descobri há pouco um documentário sobre a vida do extraordinário mas aqui pouco conhecido cineasta arménio Sergei Paradjanov.
Acho que nós xadrezistas também somos criadores artísticos, por isso aqui o link: http://anacruses.blogspot.com/2009/05/sergei-paradjanov-cineasta-1924-1990.html

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Chess Fever (Shakhmatnaya goryachka) - Vsevolod Pudovkin (1925)


O famoso filme do realizador russo com um papel de protagonista para o sedutor e campeão mundial de xadrez José Raúl Capablanca ao lado de outros mestres da época como Ernst Grünfeld, Frank Marshall, Richard Réti, Rudolph Spielmann, Carlos Torre, F.D.Yates e uma participação do famoso cineasta Boris Barnet no papel de ladrão.
Aparece também um actor Konstantin Eggert! Laços de família, Alberto?
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=zK7sfwGuGbQ

Conteúdo do filme em inglês: http://chessbase.com/newsdetail.asp?newsid=3559

terça-feira, 12 de maio de 2009

Palhaço do Xadrez alemão



Um vídeo muito engraçado. O cómico alemão Hape Kerkeling não percebe nada de xadrez, mas com a ajuda da campeã Elisabeth Pähtz e de um auricular, ele dá uma simultânea, disfarçado como mestre de xadrez oriental.
Acho que não é preciso dominar a língua alemã para perceber as piadas...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Surpresa em Corroios (ou ganhar perdendo)


É com muito prazer que fico a aderir a esta magnífica ideia dos meus colegas do GXA, Renato Vasconcellos, Marinus Luyks e Rui Marques, entre outros muitos colegas que com certeza somar-se-ão.

Os meus colegas sugeriram-me escrever as minhas impressões do último torneio em que tive a sorte de participar e ainda sair 1º, favorecido pelo intrincado (para mim) sistema de desempate.

Quanto ao Torneio, foi um torneio muito surrealista no que diz respeito ao lugar da prova e porque não, ao resultado final. Eu, como "vizinho" que sou, cheguei a Corroios de camioneta, fazendo combinação na Cova da Piedade. Uma vez localizado o sitio - ao pé do inconfundível palácio da Câmara municipal, já desde longe vislumbrei pessoal esquisito - montes de miúdos com bastantes graúdos a caminharem para todos os lados, o que naquela hora da sesta dominical só podíamos fazer nós, os loucos xadrezistas. Chegando mais perto, reconheci logo aos grandes representantes do xadrez vernáculo, o Dâmaso, o Vítor Morais, e obviamente aos quase locais ucranianos Ulyanovskyy, Ferents e Cº, aos que sinto sempre uma grande simpatia, por motivos vários, mas principalmente pela sua labor educativa com crianças.

Os supra citados jogadores dirigiam-se a um longínquo café. Ao cumprimentá-los, fui até ao próprio lugar, uma espécie de Circo Romano, onde já estava quase tudo pronto para começar. O céu mostrava a sua intermitência, mas ninguém parecia importar-se com aquele pormenor. Me encontrei com os Alekhinistas Alfredo Videira, Pedro Coelho e o sempre pronto para jogar Cardina que contou-me que este sítio já conheceu tempos melhores, quanto à manutenção

E o torneio arrancou como sempre, com boa organização, bastante pontual, sendo a 7 rondas todas de seguido, coisa que não é habitual. No que respeita ao meu jogo, tive um spurt inicial nas primeiras 6 rondas, coisa que me permitiu, mesmo perdendo (por tempo, com algumas peças a mais) o último jogo com o Viktor Ulyanovskyy, ficar no primeiro lugar, embora nem se me passou pela cabeça que aquilo podia acontecer. Já depois de terminada a última ronda, eu, acostumado a estas coisas do jogo (se ganha e se perde, é assim...) estava sentado junto ao Ferents, falando sobre os vaivéns da vida, filosofando (sempre aproveito nos torneios para filosofar em russo com os ucranianos), o ensimesmado Dâmaso se aproximou a nós e ficou a ouvir a nossa tão profunda conversa. Num momento ouviram-se os gritos de protesto do Viktor Ulyanovskyy, discutindo a validade do sistema de desempate, pelo que deduzi que provavelmente ele não seria o vencedor da prova, mas continuava a falar com o Ferents, até que fui chamado para receber o meu troféu e só ali é que percebi, ao posar para a foto, que tinha ganho a prova. Nesse dia apreendi mais sobre isto de " Ganhar perdendo"...
Para ser justo, acho que no meu jogo com o Ulyanovskyy, num certo momento ele ficou melhor, espantou-me a sua capacidade de reconhecer os seus erros durante a partida e mudar mesmo todo o esquema para melhorar a sua posição. A sua rapidez foi, mais uma vez, o seu ponto forte, sendo ele um jogador extremamente prático. Um verdadeiro gladiador.

Enfim, assim foi, desde o meu ponto de vista, como correu tudo. A quantidade de crianças que participaram na prova só pode alegrar, já que desse modo estão-se a educar e a apreender muito para o resto das suas vidas.

Os gatos de Alexandre Alekhine na Holanda (1935)



Em 2010 vai ser comemorado o 75º aniversário do match Euwe-Alekhine que foi disputado no Outono de 1935 em várias cidades da Holanda, dando um enorme impulso à modalidade.
Durante uma visita à minha terra no mês passado encontrei no fundo dum caixote de cartão uma preciosidade: um "reprint" duma edição especial do diário holandês "De Telegraaf" com as partidas mais bonitas do match, comentadas pelo Grande Mestre Savielly Grigorievich Tartakower.
O caderno original saiu para as bancas logo depois do fim do match, ainda em Dezembro 1935. A reedição que comprei em Maio 1976 foi publicada para celebrar o 75º aniversário de Max Euwe.
Nunca poderia imaginar que 33 anos (uma vida de Cristo) mais tarde este item de coleccionador ia vir a calhar para um primeiro post num blogue chamado "O Gato do Alekhine"!
Numa das fotos (clicar na imagem para ampliar) vemos como "Shamat e Lobeidah, as duas mascotes siameses da família Alekhine, jogam uma partida de xadrez mas... segundo as suas próprias regras!" (como diz a legenda em holandês).
Numa outra fotografia no caderno um dos gatos aparece a receber uma festinha de Euwe na Estação Central em Amsterdam, logo depois da chegada do comboio com o casal Alekhine.
A mesma imagem encontramos numa outra publicação sobre o match, muito mais recente (Fevereiro 2009) e com todas as partidas, do "Cercle Royal des Échecs de Bruxelles" em http://creb.serveftp.com/Archives/tome5.pdf , (foto na página 17).
Uma pequena homenagem aos dois gatos, pois o site "Les Cahiers du CREB" com esta outra jóia foi o único link que apareceu quando "googlei" os nomes dos bichos: Shamat e Lobeidah!