Num comentário anterior foi mencionado o livro "Master i Margarita" (na edição portuguesa: "Margarita e o Mestre") do escritor russo Mikhail Bulgakov. Comprei esta obra prima há uns anos (Colecção Mil Folhas do jornal "Público"), mas por razões injustificáveis o livro ficou até agora fechado numa prateleira.
Na capa (imagem em baixo) um gatinho simpático chama a atenção. Para onde estará a olhar? Se calhar para o nome do tradutor, António Pescada, palavra que deve fazer crescer água na boca a um gato inteligente (mais ou menos a situação do sócio Hugo Rato no blogue "O Gato do Alekhine"...).
No livro existe de facto uma personagem "gato", mas pouco tem a ver com o animal fofinho na capa. Chama-se "Behemoth" ("Begemót" em russo) e tem um carácter mais a condizer com a imagem em cima.
Na Bíblia, no livro de Job, "Behemoth" é o nome dum monstro. Para uns é um animal gigante do género hipopótamo, para outros é mais parecido com um grande herbívoro, um tipo de braquiossauro, o que dá muito jeito aos criacionistas, pois eles têm de acreditar na convivência entre homens e dinossáurios...
"Contemplas agora o Behemoth, que eu fiz contigo, que come a erva como um boi. Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder nos músculos do seu ventre. Quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos das suas coxas estão entretecidos. Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro. Ele é obra prima dos caminhos de Deus; o que o fez o proveu da sua espada."
Job 40:15-20
Mas o "Behemoth" no livro "Master i Margarita" dá igualmente nas vistas.
..."Como terceiro elemento naquela companhia havia um gato, surgido sabe-se lá de onde, um gato grande como um porco, preto como carvão ou como um corvo, e com uns terríveis bigodes de cavaleiro."...(p. 56)
..."Preto, grande como um hipopótamo"...(p. 214)
..."Além deles, havia ainda no quarto, sentado num banco alto diante do tabuleiro de xadrez, um enorme gato preto que segurava na pata direita um cavalo de xadrez."...(p. 287)
..."De pé sobre as patas traseiras, todo coberto de poeira, o gato fazia uma reverência diante de Margarita. Trazia agora ao pescoço uma gravata branca, e, ao peito, preso por um cordão, um binóculo de nácar. Além disso, tinha os bigodes dourados."...(p. 289)
..."Falhou!", berrou o gato. "Hurra!" E, pondo o fogareiro de lado, puxou de trás das costas uma Browning. Num abrir e fechar dos olhos visou o homem que estava mais perto dele, mas das mãos desta partiu uma chama antes que o gato tivesse tempo de disparar, e, ao mesmo tempo que soava o disparo da Mauser, o gato caia da pedra da lareira de cabeça para baixo, largando a sua Browning e arrastando o fogareiro na queda. "Acabou tudo", disse o gato com voz fraca e estendeu-se aflitivamente numa poça de sangue. "Afastem-se de mim um momento, deixem-me dizer adeus à terra."...(p. 384)
No entanto, caro leitor, não pense que isso foi o fim de "Behemoth", pois como é sabido, os gatos têm mais do que uma vida (fala-se em sete). Mesmo antes de esticar o pernil o animal conseguiu in extremis lamber uma gota de petróleo que é, como é sabido também, a salvação dos gatos moribundos, pelo menos na imaginação fértil do escritor Mikhail Bulgakov.
Um gato à altura do Alekhine!
11 comentários:
Uma visitante surpreendente no nosso blogue, mas não menos bem-vindo! Ninguém pode ficar indiferente face ao destino triste dos animais abandonados.
A imagem dos gatos no prédio devoluto em Gaia que tirei no mês passado (post 26 de Maio) pode parecer muito idílico numa tarde solarenga, mas como estarão os bichos em dias de temporal!?
Um(a) visitante...bem-vindo(a)...
Parece que o gato tem sete vidas em países com línguas românicas (latinas), mas nove em países com línguas germânicas (nórdicas)!?
Quem sabe?
Olá Rini,
que bom post fizeste, parabéns!
Igualmente é bom agragar que a obra da que falaste não é sobre o gato Behemot, mas sim sobre a religião, ou sobre o Bem e o Mal, onde as duas coisas se vão complementando. O autor fez, na realidade, duas obras numa só, que se entrelaçam, levando ao leitor duma época (a de Cristo)à outra, na que vivia o próprio autor (nos anos 20 do séc. XX). A época essa guarda certas, ja agora, com o tempo actual, acho eu...
Enfim, uma obra metafísica por excelência de grande veneração no mundo inteiro.
Obrigado, Alberto, pelo anexo "agregado", claro que "ampliei" e muito o gato Behemoth (e ele já é tão grande!) por causa do nome do blogue.
Resta-me começar a ler a obra, em viagem provavelmente, pois em casa é ultimamente só o ecrã desta máquina. Ler um livro no computador não consigo, tenho que ter o objecto nas mãos!
P.S. vi que begemót em russo = hipopótamo, quer dizer: os russos não são criacionistas, mas darwinistas, bravo!
A obra não conheço, mas o post conquistou logo uma Ronron do Alekhine!
Desejo boa sorte no Torneio de Honra, para o RFM e para o Carlos Aguiar. Pena o Torneio Nacional de Mestres não dar para 11 jogadores, ou o RFM ter +1 ELO... O Mestre Luyks teria de emitir outro certificado! Mas nesse vou torçer pelo meu velho amigo Mestre Afonso Rodrigues.
Como sei que o Eggert é vice-campeão de Lisboa de semi-rápidas, pergunto-me se irá atacar o título principal em lentas no Masters? Mais alguém do GXA vai jogar o Masters, para além dos que se apuraram na semi-final? O RFM se jogar, já vai com balanço.
Quanto a Alpiarça, não cheguei a perceber se o vinho da região se vai beber antes, durante ou depois do match?! Se o autarca pagar, faz-se um brinde ao partido dele, à menina dos ébrios, e ao Xadrez.
Agora sou eu que peço ao RFM umas crónicas do Hotel AS, no final dos torneios, para o Ronron esterilizado do Alekhine.
Rato do Alekhine
P.S.: Aposto um púcaro de vinho no Ivanchuk para o Torneio de Reis na Roménia, apesar do recente desaire no M-Tel na Bulgária. Este já não vai para o Shirov.
Também votos de sucesso da minha parte, Rui e Carlos!
A abominável Lei dos Estrangeiros de 1994 exclui jogadores não-portugueses (como eu e Alberto) destes Torneios de Mestres e Honra.
De facto boa parte da minha motivação para jogar torneios individuais desapareceu por causa desta Lei.
Caro Rato, se houver encontro em Alpiarça em volta da estátua da Menina Baccante, para não faltar ao respeito será necessário fazer um sacrifício e beber ANTES, DURANTE E DEPOIS do match.
Para aguentar este esforço imagino como acompanhamento mínimo um, melhor dois porcos no espeto, pão e batatas fritas.
Há quatro anos (também em época de eleições) fiz um concerto numa festança popular deste género em Torres Vedras (só que o vinho tinto lá era de pacote, não se pode ter tudo). São impressionantes os milagres que os autarcas conseguem fazer para angariar os votos dos eleitores.
Olá Hugo,
é assim, pá, a gente não joga nos torneios nacionais que definem ao melhor português, legalmente acho aquilo correcto. Claro, a Terra tem mais países, mas estamos neste bendito Portugal do princípio deste Séc.XXI, e não nos podemos queixar (falo só por mim, claro).
Quanto à esterilização obrigatória do Gato do Alekhine, acredito que não há perigo, já que o gato é de criadores conhecidos e certificados pelas melhores casas de Europa.
No que respeita às sugestões do grande Luyks, lá na Alpiarça logo se vê, mas soa mesmo muito interessante :)
Abraços
P.S. Boa sorte para o Rui Marques e o Carlos Aguiar no torneio de Honra.
Aleg,
Grande? Grande, mesmo grande é Allah, a seguir vem a Baccante (quatro metros e tal), só depois mortais como nós...
É verdade, Rini, não és tão grande como eles, contudo, não mudaria aquela palavra, em reconhecimento à tua experiência. A que, por certo, pouco a pouco, vais transmitindo.
*uma tarde SOALHEIRA (comentário 18 e junho 2009, mais vale tarde...), erro clássico.
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