Blogue não-oficial do Grupo de Xadrez Alekhine. Os assuntos serão vários, o xadrez necessariamente estará presente, sendo que a demais cultura e o humor não poderão também faltar.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Carlsen, o Mandarim de Nanjing
Será por causa das vestes imperiais chineses ou por causa das aulas do seu novo treinador Kasparov? Carlsen começou o torneio "Pearl Spring" em Nanjing a arrasar: duas vitórias contra Leko e Topalov.
Links para o torneio no fim do artigo no site "Chessvibes": http://www.chessvibes.com/reports/nanjing-r2-carlsen-beats-topalov-increases-lead/#more-16667
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Adivinha cultural II
domingo, 27 de setembro de 2009
Casa do Xadrez - GX Alekhine em Alpiarça
...o match...
...a taça...
...o Manuel será Curado?...
...sopa de pedra, sim senhor, mas sem orelha de porco, por favor...
..hoje é dia de reflexão?...
...a Melhor Casta..
A taça ficou em Alpiarça, só nas últimas rondas do torneio Scheveningen os alekhinistas conseguiram alguns parciais favoráveis, reduzindo a margem da derrota a proporções sofríveis.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Anish, coqueluche da televisão holandesa
Parece que o campeonato do jovem Anish Giri foi uma coisa muito boa para a popularidade do xadrez na Holanda. Campeão há menos de uma semana ele já foi a vários programas de televisão, entre os quais o programa "Holland Sport" http://player.omroep.nl/?aflID=10119951 .
Engraçado neste fragmento ver Anish a tentar imitar as caretas de Kasparov num famoso vídeo de uma partida contra Karpov nos anos '80 (minuto 7.08 no link).
E as raparigas derretidas no público (minuto 9.05) a pensar:
"Se ele tivesse só mais uns anitos...!"
Karpov-Kasparov, 3ª partida semi-rápidas, Valência 2009
Aqui um vídeo-amador do duelo Karpov-Kasparov em Valência, com no fim o desfecho da terceira partida semi-rápidas, a única ganha por Karpov.
Entretanto já conhecemos o resultado geral do match:
Kasparov-Karpov 3-1 em semi-rápidas, 6-2 em blitz, resultado desnivelado que não faz prever mais matches deste formato entre os dois, pena!
Em 1987 assisti ao match em Sevilha; tal como agora em Valência, o árbitro foi o meu compatriota Geurt Gijssen com quem tenho uma história incrível que já anunciei num comentário ao post de 4 de Julho ("Estudo de Smyslov") e que agora vou tentar recuperar para um próximo post.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Quando as peças caem...
terça-feira, 22 de setembro de 2009
A Era da Estupidez
Hoje é a estreia mundial do filme/documentário "The Age of Stupid" ("A Era da Estupidez") da autoria da activista inglesa Franny Armstrong.
O filme questiona a passividade do Homem perante as alterações climatéricas e um objectivo é "influenciar os líderes mundiais a assinarem em Dezembro em Copenhaga um novo tratado sobre redução das emissões de gases de efeito estufa".
Info sobre a estreia em Portugal: http://oplanetaquetemos.blogspot.com/2009/09/era-da-estupidez-age-of-stupid.html
domingo, 20 de setembro de 2009
Anish Giri campeão da Holanda 2009
Apesar de ter ficado desvalorizado pela ausência de vários GMIs (post 15 de Setembro), o Campeonato Individual da Holanda teve um vencedor mediático: Anish Giri, actualmente o mais jovem GMI no mundo. Filho de pai nepalês e mãe russa, Anish nasceu em São Petersburgo em 1994. Viveu períodos na Rússia e no Japão antes de chegar a Holanda no ano passado, onde dentro de 10 meses conseguiu chegar ao título de GMI, a última norma obteve no grupo C do Torneio Corus deste ano.
Há dois meses ele já foi segundo no Campeonato Aberto da Holanda.
Neste campeonato Giri começou calmamente com três empates, mas logo depois da saída inglória de Tiviakov, ele ganhou quatro vezes seguidas.
Decisiva foi a vitória contra Friso Nijboer que na classificação final ficou a meio ponto de Giri (6 contra 5,5). De brancas numa variante clássica da Defesa Índia do Rei, Giri surpreendeu Nijboer com um sacrifício de cavalo.
sábado, 19 de setembro de 2009
Top Hit do momento: "Josézito"
Para o leitor entusiasmado (como eu): versão karaoke em http://www.cercifaf.org.pt/mosaico.edu/1c/som_1c/cantiga10.htm )
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Estátua, de Camilo Pessanha
***
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, – frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado:
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Escândalo no Campeonato Nacional da... Holanda!
A sorte acompanha os audazes...
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
"Sobre a nudez crua da Verdade, o manto diáfano da Fantasia"
domingo, 13 de setembro de 2009
Rúben Pereira campeão nacional
Tal como Rui Dâmaso em 1986 (ano da minha chegada a Portugal!) Rúben Pereira sagrou-se hoje campeão nacional aos 18 anos de idade.
Fogo de artifício de jovens prometedores
Hoje, no início da última ronda do Torneio da Fase Preliminar do Campeonato Nacional dois jovens sub-16 partilham o primeiro lugar com o nosso amigo Paulo Costa (Casa do Xadrez de Alpiarça):
sábado, 12 de setembro de 2009
Adivinha cultural
Hoje reencontrei uma famosa estátua do início do século XX.
Até 2001 a obra (em pedra branca) estava colocada no centro da cidade de Lisboa, mas repetidos actos de vandalismo obrigaram à sua substituição por uma réplica em bronze.
O original está agora no jardim dum museu, onde se desenrolaram no início deste decénio alguns dos torneios "Batalhas dos Mestres".
O caro leitor sabe de que estátua se trata!?
Resposta e visão frontal da estátua num próximo post.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Foi a varinha do Harry Potter!?
Durante mais de vinte jogadas o campeão nacional António Fernandes tentou ganhar um final completamente enpatado contra o jovem André Viela, mas na posição do diagrama 1 ele parecia ter-se conformado com o inevitável: 50. Td5 pois a troca de torres dá um empate elementar, mesmo ganhando as brancas o peão; no entanto, aconteceu... - Ta4+?; 51. Rf5 - Ta6; 52. Td7+ - Rg8; 53. Re4 e as pretas perderam por tempo! "Enervou-se durante os apuros", foi o testemunho do nosso colaborador RFM, mas 30 segundos de incremento parece tempo suficiente para decidir jogar 50...Txd5, ou não!?
Possivelmente Viela "viu" a posição uma fila mais para cima (peões em g5 e g6)? Nesse caso sim, o final de peão estaria sempre ganho para as brancas, com ou sem oposição do Rei branco...
O outro "caso" foi o final da partida Jorge Fereira - Rúben Pereira.
No diagrama 2 o jovem jogador das brancas, uma autêntica revelação neste torneio, tinha acabado de jogar 67. f6 decisivo - gxf6; 68. Txf6+ - Re7; 69. Txh6 - Tb4; 70. g5 - Tg4; 71. g6 - Rf8; existem algumas posições no final Torre + 2 Peões contra Torre que dão empate, mas esta não me parece uma delas: o que fazem as pretas após 72. Th7?
Em vez disso: 72. g7+? - Txg7; 73. Tg6 - Tf7; 73. Ta6 - Tf1 e empate vinte jogadas mais tarde.
Será que foi o Harry Potter que andou por aí com a sua varinha mágica a enfeitiçar as torres!? (post "Torre mágica", 2 de Setembro)
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Dirty Old Man na Festa do Avante
... Re-sis-tên-cia!!...
...as lindas Pioneiras (clicar para ampliar)...
... Dirty Old Man com coelhinho e cervejola politicamente correcta...
...o resto da bonecada em família...
Diz o provérbio: "Quem não tem cão, caça com gato".
Ou com coelho.
Em tempos idos o coelhinho nos meus braços provavelmente seria outro (outra), mas agora que encontrei esta engraçada bicharada de marionetas no pavilhão de Cuba na Festa do Avante (obrigado, eternamente obrigado), este Dirty Old Man como por milagre conseguiu despertar a atenção de umas lindas Pioneiras durante o concerto dos guineenses Tabanka Djaz.
É caso para dizer: insondáveis são os Caminhos do Senhor...
domingo, 6 de setembro de 2009
A arte de saber perder...
Felicidades aos brasileiros!
Força aos argentinos!
sábado, 5 de setembro de 2009
Problema Interessante
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
"Danças Polovtsianas" - Alexander Borodin
Uma melodia muito conhecida da ópera "Knyaz Igor" de Alexander Borodin, baseada na obra épica "Slovo o Polku Igoreve"/"A Gesta do Principe Igor", século XII.
São sublimes as interpretações das óperas russas pelo Kirov Opera & Ballet sob direcção musical de Valery Gergiev, aqui a coreografia é de Mikhail Fokine.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Há 40 anos...
"...e recebeu ele a morte do próprio gato" *
As relações entre os jogadores de xadrez (aliás, como entre todas as criaturas do Universo... N.T.) nunca foram fáceis. Os conflitos (intrínsecos e extrínsecos) contam-se por milhares. No entanto, muito raramente, encontram-se pessoas que não têm, ou quase não têm inimigos. É o caso de Isaák Efrémovich Boleslávsky — inicialmente, candidato para o Campeonato do Mundo e mais tarde, o «Treinador Nº 1», cuja autoridade não era questionada, incluso numa companhia de estrelas de tamanho da selecção da União Soviética ...
Quem mais lhe poderia dizer a Geller: “Efim, você não percebe estas posições”, sem que este se incomodasse, senão pelo contrário, o tivesse em conta? Quando voltou a acontecer aquilo das Olimpíadas ganhas com uma margem de mais de oito pontos (ou seja: nas últimas duas rondas, podia-se, se apetecer, perder os jogos todos, e nada iria mudar)?
Sendo um dos principais fundadores da escola ucraniana do pré-guerra (conjuntamente com David Bronstéin e Alexandr Konstantinópolsky), Boleslávsky sobressaiu rapidamente no limiar dos anos quarenta. Durante a guerra, ele foi um dos que tem jogado muito nos torneios, na retaguarda, longe da linha de frente e se tem preparado para a eventual conquista do Campeonato do Mundo (aliás, a própria existência de tais competições preparatórias demonstra a certeza que se tinha, quanto à vitória). Tudo indica que o trabalho foi feito com o mesmo espírito, como se da indústria de defesa se tratasse: nos anos do pós-guerra o xadrez soviético não tinha concorrência.
A ascensão do Boleslavsky-desportista ocorreu no final dos anos quarenta, princípio dos cinquenta. Além de ganhar os jogos, ele se ganhou o reconhecimento geral pelo seu estilo – um estilo de rara harmonia, construído a base das “numerosas investigações científicas e análises laboratorias”.
Em 1950, em Budapeste, Boleslavsky não vence por um triz o Torneio de Candidatos, o que lhe teria aberto o caminho para disputar o match pelo ceptro mundial. Antes da última ronda, com meio ponto à frente de David Bronstein, que estava a jogar com Paul Keres, Boleslávsky tinha que defrontar o sueco Gideon Ståhlberg . Na luta feroz, Bronstein ganhou ao seu poderoso adversário, e Boleslavsky ... Boleslavsky ofereceu empate, a jogar de brancas, numa posição melhor, no décimo sétimo lance!
Claro que Ståhlberg também não era um obstáculo fácil (em Budapeste, ele ganhou ao Bronstein!), e ganhar “por encomenda” ao Keres era uma tarefa sumamente problemática. Mas foi incomprensível o facto de Isaák tranquilamente ter deixado o seu destino nas mãos dos outros ... tendo em conta que nos últimos jogos do torneio Ståhlberg já tinha baixado muito de nível!
Por tanto, ficaram só dois candidatos. O primeiro match de desempate ficou igualado. E só na série adicional(!) foi Bronstein quem venceu...
O match M. Botvinnik - Bronstein foi um dos melhores confrontos na história, quanto à qualidade. É pena não termos visto o duelo do Campeão do Mundo com Boleslavsky, porque de certeza teria sido um grande espectáculo. Na altura, o score entre ambos os jogadores favorecia a Botvinnik, mas qual é o problema? Boris Spassky antes do primeiro jogo com Robert Fisher estava com um historial de 3:0 a seu favor, mas ganhou o Grande Mestre americano ...
Como dado adicional, Boleslávsky representava em 1950, nada mais e nada menos que à histórica cidade russa de Sarátov. E se Isaák Efrémovich (que era um homem de família) não estivesse cansado de viver num hotel, a espera do apartamento prometido, de certeza teria sido «A pérola do Volga». Eis «apareceu» o prestigioso Minsk (capital da Bielorrússia) e ofereceu-lhe melhores condições para viver... Quem resistiria? .. Por isso, a familia toda se mudou..
Infelizmente, a vida confortável da capital bielorrusa não foi beneficiosa para o Boleslavsky-jogador (em termos puramente desportivos). Já no seguinte Torneio de Candidatos (1953), após um bom começo, ele logo afastou-se da luta pelos primeiros postos, e depois não jogou no Interzonal. É de não acreditar: continuando a fazer jogos de nível magistral, de repente o Grande Mestre deixou de ter ambições! Terá sido a despreocupação pelo seu estado físico, ou a sua inata natureza benevolente, a causa daquela mudança? Num dos jogos, tendo feito um empate com Keres numa boa posição, alguem perguntou-lhe : «Isaák Efrémovich, porque você aceitou as tablas?»
-Eu vi que estava melhor, mas se Paul Petróvich me tem oferecido um empate, por alguma razão ele o estava a necessitar, - foi a resposta.
Distinto era nas competições colectivas. Ao contrário dos campeonatos individuais, nos torneios por equipas I. Boleslasky costumava jogar em grande forma tanto nos campeonatos da URSS , como nos da Bielorrússia ou no «Sparták» (ou outrora, no “Burevéstnik”). Ai os resultados , por alguma causa nunca baixaram, ai ele continuava a ser o mesmo “grandioso e terrível”. Convenhamos, é mesmo raro. No entanto, aquilo é muito bem explicado no dístico de Yevgeny Ilyin (talvez, o melhor “poeta do Xadrez”):
***
Não lhe apetece arriscar as costas
É ser treinador do que ele gosta!
Quem já tem tido alguma experiência nesse âmbito, entenderá facilmente: para treinar as equipas e, ao mesmo tempo ser o segundo do Campeão do Mundo - literalmente não é um trabalho para mentes medíocres. Além disso, livros e mais livros ... publicados em todo o mundo.
Boleslávsky tornou-se lendário. Sendo bastante sociável num círculo reduzido de amigos, no trabalho a sua reputação era dum homem de poucas palavras. Mas quando ele lançava alguma réplica ou alguma lacónica observação, aquilo costumava ser mesmo memorável, como se dos aforismos espartanos se tratasse ... Uma vez, um molesto admirador seu, certamente lisonjeiro, não parava de louvar os seus feitos - Oh, voce é o segundo Steinitz! É o Nimzowitsch moderno! Etc...
Boleslávsky esperou a que este termine, e apenas perguntou: «O senhor é familiar de todos eles?»
Durante um par de décadas na sua vida, aparentemente “nada aconteceu” - como acontece com pessoas que trabalham muito e são bem sucedidas. A Selecção vencia ( a todos e constantemente), os livros escreviam-se e se editavam sem restrição ...
Mas tudo repentinamente acabou. O papel fatal no destino do Grande Mestre jogou o seu gato, chamado Filósofo.
Num dia do inverno Boleslávsky foi comprar comida para o gato, caiu e quebrou uma perna. Após a cirurgia, ele com o habitual fatalismo, em vez de continuar com as sessões de fisioterapia, começou a escrever mais um dos seus novos manuscritos ... Os pacientes sempre são alertados do perigo da falta de actividade física. Todos o compreendem, mas poucos seguem as recomendações. No dia em que foi dado de alta, já em casa, Boleslavsky faleceu de embolia pulmonar. A ajuda chegou tarde demais, mas nesse tipo de complicações, as esperanças de o salvar eram muito reduzidas.
* Parafraseando o antigo poema eslavo do séc. XII, http://en.wikipedia.org/wiki/The_Tale_of_Igor's_Campaign
O seguinte exemplo ilustra a rapidez com a que se pode receber um K.O. de um notável especialista em aberturas, tendo cometido só uma minúscula imprecisão.