quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“Se tivesse que voltar a viver novamente, escolhia o mesmo destino”

Os vaivéns da História são sempre inesperados. Para o bem, ou para o mal.
Pois, um dia como hoje, há 17 anos, terminava o seu caminho nesta vida, o meu primeiro mestre  (da própria vida e coincidentemente do xadrez),  o meu pai, Alexander Vladímirovich Eggert. 

Ao esculpir o busto dum grande trovador cazaque, 
Homem duma personalidade forte, rica e original, dificilmente “catalogável” univocamente. Apesar dos conhecidos impedimentos duma sociedade rígida e até certo modo paranóica, como a soviética daqueles sombrios anos, soube fazer uma vida digna e difícil, mas sempre cheia de arte. Sendo inquieto por natureza, foi autodidacta de muitos oficios, destacando-se como escultor e designer. Talvez pelos conhecimentos de anatomia que possuia, tambem desenvolveu-se na estranha arte manual do “indireita”, oficio que desenvolveu na última década da sua vida.

Aqueles anos felizes
Nascido em 1934, na histórica cidade de Poltáva (Ucrânia), filho único de pai aristocrata (morto em 1938, durante os sanguinárias repressões stalinistas) e mãe simples citadina, passou a ocupação alemã-nazi sem ter sofrido nenhuma perseguição, pela sua ascendência germânica, ao cuidado dos seus avós, pois a sua mãe-viúva fugiu para buscar uma vida melhor, desaparecendo por um sem-fim de anos....

Os avós maternos
Passada a terrível Guerra, pelas mesmas razões (sendo filho dum "inimigo de povo") e tendo apenas 18 anos, conheceu os “nove círculos” do GULAG, os que na verdade foram 15, um por cada ano que lá passou. 
 Apesar das duras provas, teve forças de sair vivo, e ainda formar uma família.
 Foi na Argentina que terminou o seu andar, onde encontrou a sua Mãe, com a que se reencontrou passado mais de meio século...

Contudo, apesar de tanta tragêdia, o meu pai nunca se arrependeu da vida que teve que viver. Segundo a suas próprias palavras: “Se tivesse que voltar a viver novamente, escolhia o mesmo destino”. 

Essa forte posição caracterizou sempre ao meu querido Pai, a quem quero fazer esta pequena homenagem, com o seu amado 1º Concerto para Piano e Orquestra de Piotr Ilitch Tchaikovsky como fundo...



Pai, és o maior!

2 comentários:

Rini Luyks disse...

Bela homenagem, Alberto!
Ele jogava xadrez?
Deve ser, como o teu tio-avô que entrou no filme "Chess Fever" de Pudovkin... (http://ogatodoalekhine.blogspot.com/2009/05/chess-fever-shakhmatnaya-goryachka.html)

disse...

Obrigado Rini. O meu pai jogava xadrez ao nível de 3ª categoria, sendo de algum modo o meu único treinador. Desde os meus 4 anos passamos a jogar inúmeras horas, embora rapidamente fui eu quem passou a treinar ele, mas isso é o que sempre tem de acontecer (o mestre termina sendo aluno do seu próprio aprendiz).
Foi tanto xadrez naqueles anos, que bem podia-se fazer um filme intitulado "Febre do Xadrez dos 70-s"