terça-feira, 22 de novembro de 2011

Naked Chess Performance


Jennifer Shahade ("Chess Bitch" - http://ogatodoalekhine.blogspot.com/2011/02/o-novo-livro-da-chess-bitch-jennifer.html ) e a sua "Naked Chess Performance" no fim-de-semana passado em Amsterdam - no 1º Torneio Euwe Memorial.
Mais sobre esta performance, uma homenagem ao artista plástico e xadrezista Marcel Duchamp, em: http://www.chessbase.com/newsdetail.asp?newsid=5360

sábado, 19 de novembro de 2011

Dia Mundial do Xadrez 2011



Hoje é Dia Mundial do Xadrez, a coincidir com o 123º aniversário do nascimento de José Raúl Capablanca y Graupera (1888-1942).
Em 2010 ele passou fugazmente por aqui no post "Imagens históricas de Euwe e Alekhine"
(http://ogatodoalekhine.blogspot.com/2010/12/imagens-historicas.html) numa pequena entrevista, a ver em: http://www.geschiedenis24.nl/speler.program.7099385.html

Saudades dos tempos dos Festivais de Xadrez em Lisboa nesta altura do ano com presença dos melhores jogadores do mundo, o último foi há dez anos com Vishy Anand e Jan Timman entre outros.
Olhando para o estado do xadrez neste país agora, será que tudo isto aconteceu mesmo?

Babson Task



No site "Chessbase" foi ontem lembrada a história mirabolante do "Babson Task",
http://www.chessbase.com/puzzle/puzz13a.htm , um problema de xadrez, cuja composição era considerada impossível durante muitos anos, até à "aparição do nada" dum treinador de futebol de Kazan, Leonid Yarosh (na foto com o xadrezista e escritor holandês Tim Krabbé).

A ideia do Babson-task (http://en.wikipedia.org/wiki/Babson_task):
1. as brancas jogam,
2. as pretas promovem um peão a dama, torre, bispo ou cavalo
3. as brancas promovem também um peão, obrigatoriamente à mesma peça que as pretas!
4. a seguir as brancas dão mate, em geral é um mate em 4.

No artigo está descrita a verdadeira "saga" à volta deste problema.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"A Arca russa" - Alexander Sokurov (2002)



Mazurka da ópera "Uma vida para o czar" de Mikhail Glinka, orquestra do Teatro Mariinsky, dirigido por Valery Gergiev.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

“Existem dois tipos de sacrifícios: os correctos e os meus.”( Mikhail Tal)-75º aniversário!!

MF Roman Chemeris


Mikhail Nekhémievich Tal,
Nascido 9 de Novembro de 1936, em Riga.
Morreu em 28 junho de 1992 em Moscovo.
Oitavo campeão mundial (1960).
Tal foi o último romântico do xadrez. Sua aparição no xadrez ocorreu durante o reinado de Botvinnik e Smyslov que representavam a escola do jogo posicional.


Dotado de uma memória fenomenal e imaginação sem limites, Tal joga contra jogadores “alfabetizados” no jogo posicional e armados com o conhecimento do século XX, no estilo dos antigos mestres! Ignorando os cânones estabelecidos, ele facilmente destrói fortalezas inexpugnáveis. Tal não calculava as longas variantes, ele simplesmente via tudo através delas...


Sua aparição na elite aconteceu num momento muito oportuno. No final dos anos 50 o mundo do xadrez estava literalmente com as mãos e pés atados pelas regras estritas do jogo posicional de Botvinnik, quem preconizava um método lógico e planificado. 
Os treinadores e professores, influenciados pelos resultados da competição de elite mundial, ensinavam os seus alunos a jogar um xadrez "correto"...   Mas de repente chegou um jovem brilhante e cheio de talento que ignorando todas as regras, bateu todos os gigantes do pensamento!
Foi uma revolução, uma autêntica revolução! O jovem Tal colocava aos seus adversários problemas de extrema dificuldade, usando para isso combinações muitas vezes incorrectas. A estratégia do bluff deu-lhe certamente uma grande percentagem de vitórias. Como foi dito nesses anos, “os adversários do Tal lhe ganham sempre, sempre ... mas ganham é na análise, após o jogo! ".
Em 1960, com apenas 24 anos de idade, Tal derrotou o grande estratega Botvinnik no famoso match pelo Campeonato Mundial. Mesmo após ter "devolvido a coroa", durante toda a sua vida Tal continuo a ser considerado um génio do xadrez.

É importante ressaltar que, desde o início dos anos 60, isto é, a partir dos seus 25 anos, Mikhail Tal já não era o de antes, chegando a estar com todos os seus adversários em grande desvantagem, pois jogava doente! Por vezes apresentava melhoras na doença, mas nunca mais esteve na máxima força que era exigida a um jovem ex campeão do mundo.  A revista "Xadrez" da União Soviética sabia que Mikhail Tal ia ter uma operação séria que podia correr mal e preparou um elogio de despedida para a página de necrologia. Mas, ao contrário das expectativas, o paciente sobreviveu. Alguns amigos mostraram-lhe o texto. Tal leu e achou que estava bem e devolveu-o para a redacção com sua assinatura.

O que é particularmente marcante em Tal é o seu incrível amor pelo xadrez.



Certamente, Mikhail Nekhemievich não deixou grandes inovações dentro da teoria das aberturas, pois era um prático puro! O tesouro principal que nos deixou foi uma infinidade de combinações para todos os gostos.
De 16 a 25 Novembro de 2011 vai realizar-se em Moscovo mais um memorial Mikhail Tal. Com os seguintes participantes: Carlsen(2823), Anand(2817), Aronian (2807), Kramnik (2791), Karjakin (2772), Ivanchuk (2765), Nakamura (2753), Gelfand (2746), Svidler (2740), Nepomniachtchi (2718).


Tal,Mihail - Portisch,Lajos [B11]
Candidates qf1 Bled (2), 1965
B11: Caro-Kann: Two Knights Variation
1.e4 c6 2.¤c3 d5 3.¤f3 dxe4 4.¤xe4 ¥g4 5.h3 ¥xf3 6.£xf3 ¤d7 7.d4 ¤gf6 8.¥d3 ¤xe4 9.£xe4 e6 10.0–0 ¥e7 11.c3 ¤f6 12.£h4 ¤d5N 13.£g4 ¥f6 14.¦e1 £b6 15.c4! ¤b4




16.¦xe6+! fxe6 17.£xe6+ ¢f8 [17...¢d8!] 18.¥f4 ¦d8 19.c5 ¤xd3! [19...£a5? 20.¦e1!+-] 20.cxb6 ¤xf4 21.£g4 ¤d5 22.bxa7 ¢e7? [22...g6!] 23.b4!! ¦a8? [23...¤c7!?] 24.¦e1+ ¢d6 25.b5 ¦xa7 [25...¦hd8 26.b6 ¤xb6 27.£f4+ ¢d7 28.¦b1] 26.¦e6+ ¢c7 27.¦xf6! 1–0







" Tal, como dizem, "veio, viu e venceu" ... Impactou a todos com o seu talento de combinações, a sua intuição extraordinária e uma memória fenomenal.” A.Karpov.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“Se tivesse que voltar a viver novamente, escolhia o mesmo destino”

Os vaivéns da História são sempre inesperados. Para o bem, ou para o mal.
Pois, um dia como hoje, há 17 anos, terminava o seu caminho nesta vida, o meu primeiro mestre  (da própria vida e coincidentemente do xadrez),  o meu pai, Alexander Vladímirovich Eggert. 

Ao esculpir o busto dum grande trovador cazaque, 
Homem duma personalidade forte, rica e original, dificilmente “catalogável” univocamente. Apesar dos conhecidos impedimentos duma sociedade rígida e até certo modo paranóica, como a soviética daqueles sombrios anos, soube fazer uma vida digna e difícil, mas sempre cheia de arte. Sendo inquieto por natureza, foi autodidacta de muitos oficios, destacando-se como escultor e designer. Talvez pelos conhecimentos de anatomia que possuia, tambem desenvolveu-se na estranha arte manual do “indireita”, oficio que desenvolveu na última década da sua vida.

Aqueles anos felizes
Nascido em 1934, na histórica cidade de Poltáva (Ucrânia), filho único de pai aristocrata (morto em 1938, durante os sanguinárias repressões stalinistas) e mãe simples citadina, passou a ocupação alemã-nazi sem ter sofrido nenhuma perseguição, pela sua ascendência germânica, ao cuidado dos seus avós, pois a sua mãe-viúva fugiu para buscar uma vida melhor, desaparecendo por um sem-fim de anos....

Os avós maternos
Passada a terrível Guerra, pelas mesmas razões (sendo filho dum "inimigo de povo") e tendo apenas 18 anos, conheceu os “nove círculos” do GULAG, os que na verdade foram 15, um por cada ano que lá passou. 
 Apesar das duras provas, teve forças de sair vivo, e ainda formar uma família.
 Foi na Argentina que terminou o seu andar, onde encontrou a sua Mãe, com a que se reencontrou passado mais de meio século...

Contudo, apesar de tanta tragêdia, o meu pai nunca se arrependeu da vida que teve que viver. Segundo a suas próprias palavras: “Se tivesse que voltar a viver novamente, escolhia o mesmo destino”. 

Essa forte posição caracterizou sempre ao meu querido Pai, a quem quero fazer esta pequena homenagem, com o seu amado 1º Concerto para Piano e Orquestra de Piotr Ilitch Tchaikovsky como fundo...



Pai, és o maior!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

"Para mim, o xadrez não é um jogo, é uma arte" - Alekhine, Alexander Alexandrovich

Recebemos ontem do nosso amigo, o treinador ucraniano MF Roman Chemerys (Chemeris) esta sentida homenagem, a que não podemos deixar de compartilhar com quem ama o Xadrez...

para uma leitura mais confortável, clicar no seguinte link:
(http://xadrezpt.com/blog/para-mim-o-xadrez-nao-e-um-jogo-e-uma-arte-alekhine-alexander-alexandrovich/)

MF Roman Chemeris










ALEKHINE, Alexander (1892-1946). Maior Campeão Mundo de Xadrez (1927-1935, 1937-1946). Nascido em 31 de Outubro de 1892, em Moscovo, numa família nobre. Quando tinha 7 anos de idade, a sua mãe ensinou-lhe as regras do jogo. Em 1902, juntamente com o irmão mais velho, Alex começa a jogar por correspondência. Em 1905 ganha o torneio "Chess Review". Em 1907 tornou-se um membro do círculo de xadrez de Moscovo. Em 1909 ganhou o Torneio de “Todas as Rússias” Memória Chigorin e foi promovido a Mestre. Depois de terminar o ensino secundário em 1910, mudou-se para São Petersburgo e entrou na Escola Imperial de Direito. Em 1912, venceu o campeonato dos países nórdicos, em Estocolmo. No mesmo ano ganhou o primeiro prêmio num torneio internacional em Scheveningen (Holanda). Em 1913, no St. Petersburg “Torneio dos Campeões" Alekhine obteve o 3 º lugar, atrás de Lasker (campeão Mundial) e Capablanca, recebendo o titulo de Grande Mestre. Em 1916, foi voluntariamente para a frente de batalha da Cruz Vermelha russa. Salvou feridos no campo de batalha e foi-lhe concedido Ordens e medalhas. Durante a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, Alekhine ficou privado das suas propriedades e da sua origem de nobre. Em 1918, é preso em Odessa por tentativa de fuga da Rússia. Condenado a fuzilamento é libertado duas horas antes da morte. De regresso a Moscovo, em 1920 torna-se o primeiro campeão da União Soviética. Começa a trabalhar como tradutor no Congresso do Comintern e no ano seguinte, casou-se com Anne-Lise Ruegg, a representante do Partido Social-Democrata da Suíça e com ela deixa a Rússia. Imediatamente mergulha na vida do xadrez europeu. Em 1922, num torneio internacional em Londres, ficou em segundo lugar, atrás do campeão mundial 




Capablanca. Em 1925, em Paris, bateu seu próprio recorde jogo às cegas contra 28 jogadores (+23-2=3).
Venceu vários torneios de elite mundial, tornando-se candidato ao título Mundial. Alekhine achou-se finalmente preparado para defrontar o campeão do mundo o cubano Capablanca. Este exigiu dez mil dólares em ouro como caução para prémios e mais cinco mil para a organização. Muito dinheiro para a época. Alekhine conseguiu fazer com que Capablanca aceitasse o desafio, definindo este as regras do match com a conquista do título às 6 vitórias. Capablanca para assegurar o título Mundial necessitava unicamente de 5 vitórias.
Em Buenos Aires, de 16 de Setembro a 29 de Novembro de 1927, realizou-se o grande match. O 10º campeão mundial da história Boris Spassky, 81 anos depois, chamou a este confronto luta de gigantes, o maior do século XX. Durante a competição, levada a cabo à porta fechada e sem a presença de espectadores, Alekhine venceu com um total de seis vitórias, vinte e cinco empates e três derrotas tornando-se o novo CAMPEÃO MUNDIAL. Os entusiastas do Xadrez levaram Alekhine aos ombros pelas ruas de Buenos Aires. Capablanca ficou chocado com a derrota. Algum tempo depois quis a desforra querendo um novo match, mas com outras regras: o candidato deveria pagar menos e realizar-se um menor número de partidas. Alekhine não aceitou jogar e só o faria nas mesmas condições que Capablanca tinha imposto anteriormente. Como Capablanca não tinha dinheiro suficiente nem patrocinadores dispostos a investir nele, já que Alekhine tinha demonstrado grande superioridade, não se realizou novo match. No entanto, Alekhine com outros candidatos aceitou mudar essas condições.

O novo campeão mundial recebeu inúmeros telegramas de congratulações de todo o mundo, incluindo da União Sovética. A vitória sobre Capablanca trouxe a Alekhine não só o título mundial, mas também levou a uma escandalosa quebra da sua relação com a Rússia. Na imprensa soviética começaram a aparecer noticias de que o novo campeão estava prestes a voltar para a Rússia. No entanto, a realidade provou o contrário. Após a ida de Alekhine de Buenos Aires para Paris, em homenagem à sua vitória foi organizado pelos emigrantes um banquete na "Casa da Rússia". Num discurso, neste banquete Alekhine disse que estava contente de acabar com o mito da invencibilidade de Capablanca. Mas no dia seguinte em alguns jornais para emigrantes russos em França ao seu discurso foram adicionados declarações anti-soviéticas. Antes disso Alekhine nunca tinha feito nenhuma declaração política contra a União Soviética, ele só estava interessado em xadrez. Na sequência destes acontecimentos, as autoridades russas declararam Alekhine inimigo da União Sovética.
Em consequência o seu irmão mais velho, Alexei, corta relações com Alekhine através da imprensa (a polícia stalinista conhecia vários métodos de persuasão). De uma forma ou outra, a relação com a terra natal foi quebrada. Na Rússia, havia ainda uma irmã Varvara, mas o contacto é inexistente. Deve acrescentar-se que a sua mãe morreu em 1915 e seu pai em 1917. Agora Alekhine foi deixado sozinho, o Xadrez é a única coisa que lhe resta na vida.
Submetendo-se ao seu talento, vontade e perseverança descobriu os segredos mais profundos do xadrez. Começa a jogar como nunca jogou nenhum xadrezista do mundo antes.
Em 1930, Alekhine ganhou um torneio internacional em San Remo (Itália) com o resultado +13=2, á frente 3,5 pontos do 2º, A. Nimzowitsch. No mesmo ano, na Olimpíada Mundial de Hamburgo lidera a equipa de França vencendo todos os nove jogos. No ano seguinte, nos Jogos Olímpicos em Praga, obtém o melhor resultado. Num outro Torneio Internacional em Bled (Jugoslávia) ficou em primeiro lugar, à frente do 2º que foi Bogoljubow com 5,5 pontos de vantagem!!! Em 1933, na Olimpíada de Folkestone (Inglaterra) mostra mais uma vez o melhor resultado no tabuleiro.






Na Exposição Mundial de Chicago consegue um novo recorde mundial no jogo às cegas contra 32 jogadores (+19-4=9).
Em 1929 e 1934, defendeu o título de campeão mundial contra Bogoljubow (Ucraniano, duas vezes campeão da União Sovietica e Campeão FIDE 1928.
Em 1924, Lasker escreveu sobre Bogoljubow: "Eu vejo em sua cabeça uma coroa de campeão do mundo."
Em 1925, em Moscovo Bogoljubow ganhou um torneio de elite mundial à frente de Capablanca, Lasker e outros grandes mestres. (Alekhine não foi convidado).
E depois de muitos anos, o jovem Garry Kasparov, na altura candidato a campeão do mundo disse ao Grande Mestre Adrian Mihalchishin para ver o primeiro match entre Alekhine e Bogoljubow, um dos melhores matches para o título de campeão mundial.
No final de 1935 perde o titulo de Campeão do Mundo a favor de Max Euwe (15,5:14,5). No entanto, no final de 1937, recupera o título de Campeão Mundial, com uma vitória retumbante, contra o mesmo M. Euwe (15,5:9,5)!!!
Em relação a esses matches de 1935 e 1937 convém dizer que os soviéticos ajudaram Euwe, convidando-o a participar em vários torneios na União Soviética e financiando fortemente a equipa técnica de Max Euwe: Em. Lasker (chefe), S. Flor, R. Fine. Além disso ainda tinha o apoio dos Grandes Mestres : M.Vidmar, E.Grunfeld, S. Landau, G.Maroczy, R. Spielmann, H. Kmoch e o maior assistente mundial em ficheiros de aberturas A. Becker. Falar em mais ajudantes de Euwe é dificil, porque depois da derrocada frente a Alekhine em 1937, cada um deles procurou encobrir o seu envolvimento. Lasker fugiu para a América deixando o belo apartamento em Moscovo e os seus pertences, temendo repressões. Nestes matches foi testado o confronto entre uma equipa e um jogador em solitário. Alekhine não foi apenas um grande jogador, mas foi o maior génio, que derrotou o bando em 1937 por 15,5 : 9,5!
Botvinnik disse que em 1937 quando Alekhine recuperou a sua forma ganharia a qualquer jogador do mundo.
   Em 1934 houve mudanças na sua vida pessoal. Alekhine casou com Grace Vishar, uma americana de ascendência judaica, viúva do governador de Marrocos. Grace jogava xadrez, disputando torneios femininos. Tinha uma fortuna considerável.
No dia 19 de Novembro de 1938, dia em que Capablanca fez 50 anos, no Torneio de elite mundial AVRO na Holanda defrontaram-se pela última vez Alekhine e Capablanca, com vitória para Alekhine.
Após o início da II Guerra Mundial, Alekhine com o título de tenente foi como voluntário para o exército francês como tradutor militar. Depois da derrota da França, Alekhine ficou nos territórios ocupados pelos nazistas. Para proteger a vida de sua mulher judia, ele foi forçado a competir na Alemanha e nos territórios ocupados. Nestes torneios em Salzburgo, Munique, Varsóvia, Cracóvia e Praga jogaram Keres, Bogoljubow, Lundin, Stolz, Opochensky, Zemish e muitos outros. Mais tarde Keres jogou mesmo pela equipa da URSS nas maiores competições mundiais. Alekhine deu ainda simultâneas às mais altas patentes nazis, não perdendo nenhuma partida.
Em 1941, o jornal “Pariser Zeitung” publicou um artigo anti-semita, intitulado "Xadrez Judeu e Ariano", assinado por Alekhine, que disse mais tarde que a publicação era "falsa". Enquanto isso, pessoas que conheciam Alekhine, afirmaram que ele nunca tinha tido convicções anti-semitas, e não escreveria tais disparates. Nesse artigo, Alekhine abordava a questão da reconstrução da FIDE. Os editores “Pariser Zeitung” alteraram o material para o espírito da ideologia nazista e publicaram com a assinatura de Alekhine em muitos países. Cada nova publicação foi significativamente diferente da anterior, até mesmo no volume do material.
 Mikhail Botvinnik (6º campeão mundial) disse que Alekhine não teria ousado escrever tais disparates (" 64 ", N18, 1991). Garry Kasparov (13º campeão mundial), no dia 31 de Outubro de 1992, na "Casa dos Eruditos" em Moscovo, numa noite de gala dedicada ao centenário de Alekhine expressou pensamentos semelhantes chegando às mesmas conclusões.

Em 1996, o biógrafo de Alekhine V. Charushin demonstrou que a reformulação do artigo foi feita por Theodor Gerbets, xadrezista e jornalista austríaco, editor da
Pariser Zeitung" e fanático anti-semita (falecido em 1945).


O engraçado é que a separação entre o xadrez "ariano" e judaico, na verdade, foi sugerida por um dos jogadores mais fortes da União Soviética, entre 1920 e 1930, o mestre Peter Romanovsky num artigo dele lançado em meados de 1930 dedicado à percepção, brilhantismo e criatividade do jogo dos mestres soviéticos, contrastando com o estranho estilo de jogo de Flor e Fine que acumulavam pequenas vantagens. Assim, o editor da “Pariser Zeitung” aproveitando-se deste artigo apenas fez a troca de nomes, soviético para ariano e Flor e Fine para judeu, não criando nada de novo.
"Onde está o manuscrito do artigo de Alekhine? Quem o viu?"
Os alemães que eram muito meticulosos deveriam saber armazenar documentos. Este manuscrito agora seria, num museu na Europa, um documento irrefutável.
Em 1943, a Gestapo deu-lhe permissão para ir para a Espanha. Em 1944-1945 ganha uma série de torneios em Espanha. No final de 1945, Alekhine estabeleceu-se em Portugal no Estoril.
Após a guerra recomeçaram as negociações para o Match de atribuição do título de campeão mundial entre Alekhine e o campeão soviético Botvinnik. No final do ano de 1945, Alekhine foi convidado a participar nos torneios de Londres e Hastings agendado para o ano seguinte. O convite seria posteriormente anulado dado o boicote organizado pelo quinto campeão mundial Max Euwe e apoiado pelos americanos Reuben Fine, Samuel Reshevsky e Arnold Denker que só jogariam esses torneios se Alekhine não participasse. Usando a história malfadada do artigo em «Pariser Zeitung» em 1941, iniciaram uma perseguição cruel a Alekhine, proibindo-o de todas as actividades ligadas ao xadrez, como jogar torneios, fazer palestras e simultâneas ou escrever livros e artigos durante 8 meses, isto até à realização do Match com Botvinnik, querendo inclusive retirar-lhe o título de campeão mundial (30 anos mais tarde, Max Euwe na véspera de ser eleito presidente da FIDE iria dizer que não participou no boicote, mas factos mostram que ele foi o principal responsável). O único que defendia com convicção Alekhine era o Grande Mestre Tartakover, que organizou maneira de ajudar.
No início de 1946 recebeu uma chamada para o jogo contra Mikhail Botvinnik (Campeão União Sovietica). O jogo foi marcado em Inglaterra pela British Chess Federation. O presidente da Federação de Xadrez da URSS era nesta época, o coronel da Polícia Secreta da KGB B. Weinstein. Os responsáveis do xadrez da URSS ainda não tinham esquecido a derrocada que Alekhine infligiu ao grupo de consultores talentosos que trabalharam para Euwe na desforra de 1937. Numa reuniâo entre o coronel B.Weinstein e o general tenente S.Mamulov,que era o asessor de L.Béria,chefe da Polícia Secreta foi decidido que este match não devia ocorrer nunca. A Policia secreta da União Sovietica era contra este jogo, receando que Botvinnik pudesse perder o match, podendo levar a castigos severos por parte de Staline, mas Botvinnik concordou com Molotov, nº 2 do regime soviético a realização do Match.
...Alekhine veio a falecer num hotel em 24 de Março de 1946 no Estoril em Portugal, enquanto se preparava para o match para defender o seu título de campeão do mundo contra Botvinnik. No 25 de Março de 1946 agências de notícias espalharam pelo mundo informações sobre a morte de Alekhine. Diziam que foi encontrado em seu quarto de hotel na cidade portuguesa do Estoril, perto de Lisboa, morto com um pedaço de carne na garganta, sentado em frente a um tabuleiro de xadrez, que estava em posição de um jogo entre os Mestres Medina e Rico. As perguntas surgem quando se olha para as fotos tiradas na sala imediatamente após a morte de Alekhine. Porque é que nas fotos as peças de xadrez ainda estão na posição inicial embora tenha sido noticiado que ele morreu, analisando a partida Medina - Rico? Porquê tantos pratos vazios na frente dele? Porque é que Alekhine está no quarto de hotel vestido com um sobretudo, quando um aristocrata russo nunca comeria de sobretudo? Onde está o jantar? Ele não deveria lutar pela vida? Então como é que ele aparece sentado quando asfixia com a carne na garganta? Mais de meio século depois, o patologista A.B. Alyadov, olhando para a foto, chegou à conclusão que Alekhine foi envenenado cerca de dois dias antes da fotografia.
Esteve 10 anos enterrado em Portugal. Alekhine foi originalmente enterrado no Estoril. Em 1956, no 10 º aniversário da sua morte as autoridades soviéticas manifestaram o desejo que os restos mortais de Alekhine fossem para Moscovo, mas por insistência da viúva Grace Alekhine foi enterrado em Paris, onde viveu e onde Grace Alekhine também passou a maior parte de sua vida. O enterro ocorreu em 25 de Março de 1956 no cemitério de Montparnasse, com a participação do presidente da FIDE Folke Rogarda e uma grande delegação da URSS. O baixo-relevo da pedra de mármore foi criado por um jogador de xadrez e escultor Abrão Barats pessoalmente familiarizado com Alekhine. Na inscrição do túmulo lê-se: "Alexander Alekhine - um gênio do xadrez na Rússia e na França. Campeão mundial de xadrez 1927-1935 e 1937 até à sua morte. " Grace morreu duas semanas antes do evento. Ela foi enterrada junto com Alekhine.
No final de Dezembro de 1999, um furacão destruiu o túmulo de Alekhine. A restauração do monumento custava vinte mil dólares. A questão do dinheiro não foi abordada durante vários anos. Em seguida, campeões mundiais em diferentes anos como Smyslov, Spassky e Karpov, escreveram uma carta aberta a várias autoridades, pedindo ajuda para restaurar o túmulo de Alekhine. Quem sabe quanto tempo teria ficado o monumento do cemitério destruído, se não fosse um cidadão anónimo russo a pagar o custo total da restauração. E a 31 de Outubro de 2003, deu-se a cerimónia de abertura do monumento restaurado no túmulo do campeão. Infelizmente, a placa do grande jogador de xadrez tem três erros, a data de nascimento que é 31.10.1892 em vez de 01.11.1892, a data da morte que é 24.03.1946. em vez de 25.03.1946 e o tabuleiro que tem o canto direito preto. Isso pode ver-se comparando os monumentos de 1956 e de 2004. A vida foi negra para o maior jogador de xadrez e muitos anos depois da sua morte parece que o negro continuou a prevalecer.
E mesmo agora, muitos anos depois, ainda há artigos da propaganda soviética desagradáveis sobre a vida de Alekhine e há também um livro de Pablo Moran "A agonia de um génio", publicado em 1972, em Madrid, que está imbuída de um grande ódio sobre Alekhine. O livro poderia ter o nome de "Anti-Alekhine." Inventou muitos factos. Todos estes escritores se dizem amigos de Alekhine. Como diziam os antigos: "Deus, livra-me dos amigos que eu lido com os inimigos”. Os soviéticos disseram que Alekhine perdeu o título em 1935 por jogar embriagado. É uma história muito escura. Euwe, que derrotou Alekhine nunca se referiu a isso. A embriaguez é outro mito da propaganda soviética especialmente por Kotov, um agente da KGB, que se empenhou na realização do livro que depois passou a filme "Branca de Neve da Rússia", que relata a vida de Alekhine onde aparece muitas vezes bêbedo.Kotov disse que Alekhine tinha morrido de cirrose do figado. Mas, na realidade, quando Alekhine morreu a autópsia ao fígado revelou que estava normal. Alekhine bebia moderadamente. Se uma pessoa durante o almoço bebe um copo de vinho, não pode ser chamado bêbado.
A. Kotov afirmou que um dia Paul Keres lhe disse que nos torneios realizados nos anos da guerra, nem um só dia Alekhine esteve sóbrio e que o viu dormindo nas ruas de Madrid “Xadrez Alekhine património " 1 (M, FiS, 1982). Estas palavras de Kotov só são ditas após a morte de Keres.
Mas em vida Keres escreveu: "Nos torneios durante a Guerra Alekhine campeão do mundo esteve em destaque, numa excelente forma, ganhando geralmente e eu ficava em segundo lugar. P. Keres "Cem partidas" (5. As duas partidas durante os anos de guerra) M. FiS, 1966. P.151
Flor, um dos treinadores de Max Euwe nos matches contra Alekhine, também escreveu sobre Alekhine dizendo que em 1937, em Amesterdão chegou saudável, não fumava, nem bebia e era um homem auto-confiante, que decidira reconquistar o título de campeão mundial. " - "64" № 19-1972.
Alguns factos que os "amigos" de Alekhine não falam:
-Em Novembro de 1914, o jovem Alekhine realizou uma simultânea com 33 jogadores do top de Moscovo. O dinheiro recebido pela simultânea, ele o deu para um
hospital para benefício dos soldados feridos;
-Em 1929, num grande torneio de elite mundial em Carlsbad, Alekhine veio como repórter. Deu muitos autógrafos, depois cansado disse que não dava mais, a não ser por 1000 coroas. Um americano tomando a sério a proposta deu as 1000 coroas por um autógrafo. Fazendo segredo com os jogadores participantes entregou ao director do torneio esse dinheiro para ser entregue ao primeiro vencedor na jornada do dia seguinte, tendo o director avisado que o prémio foi oferecido por Alekhine.
-Quando Alekhine era campeão mundial, desinteressadamente ajudou financeiramente A. Lilienthal que viria a ser no futuro Grande Mestre e participante no torneio de candidatos para o campeonato mundial em 1950. Haveria muitos mais factos para dizer.
Alekhine foi o único campeão mundial a reter o título até a sua morte, numa época em que esse título era tratado como uma propriedade privada do campeão.
Alekhine estudava bastante xadrez, escreveu mais de 20 livros e vários artigos. Falava 6 linguas fluentemente e tinha uma capacidade de memória excelente, conseguindo memorizar quase todos os jogos dos jogadores mais famosos de xadrez nos últimos 15-20 anos. Doutorou-se em Direito e a sua contribuiçao na teoria do xadrez foi simplesmente enorme. Foi um jogador de grande nível, conhecido pelo seu estilo marcadamente atacante e Campeão Mundial de xadrez durante 17 anos. Alekhine fez muitíssimo para popularizar o xadrez no mundo e também em Portugal.
De acordo com Garry Kasparov, Alekhine foi o pioneiro universal de um estilo de jogo, que era sacrificar um peão frequentemente para ganhar a iniciativa. Hoje em dia, este é o estilo dos melhores jogadores mundiais.
Actualmente o xadrez mudou drasticamente. Computadores e programas de computador permitem reduzir drasticamente o tempo de preparação para se chegar a ser um jogador de elite. Há xadrezistas modernos e prodigiosos no xadrez que chegam ao super ranking Elo de 2700 e alguns até a 2800.
Na biografia do profissional moderno: só há xadrez,... xadrez,... xadrez. Não precisa de procurar dinheiro para jogar com o campeão, isso é tarefa de outras pessoas. Os campeões modernos podem dedicar-se ao xadrez a 100%. Mas há coisas de Deus, Alekhine fez uma simultânea às cegas em 32 tabuleiros, que até hoje nenhum campeão conseguiu fazer. E se levarmos em conta os complexos acontecimentos históricos da sua vida, Alekhine conseguiu realizar-se no xadrez de forma sublime.
Segundo Robert Fischer a riqueza da imaginação e da profundidade de penetração na posição de Alekhine não tinha igual na história do xadrez. O GRANDE CAMPEÃO MUNDIAL de XADREZ foi uma figura brilhante e trágica. Passou momentos difíceis na vida, hostilidades, sofreu ferimentos, esteve na prisão e escapou por pouco de ser fuzilado; sozinho, lutou contra os golpes do destino, morreu na pobreza e no esquecimento. Mas, NA HISTÓRIA DO XADREZ FOI UM GRANDE E INVICTO CAMPEÃO!

Artigo de Roman Chemerys, Portugal - 31 de Outubro de 2011
Este artigo foi publicado no Facebook por Roman Chemerys

P.S. Em 2012 será o 120º aniversário do nascimento de Alexander Alekhine, campeão mundial invicto, que viveu no Estoril e fez muito para popularizar o xadrez em Portugal.

Em Abril deste ano no campeonato Nacionais de Jovens em Torres Vedras, falei com o presidente e com outros membros da Federação Portuguesa de Xadrez sobre a possibilidade da FPX organizar um grande torneio, em memória do quarto campeão do mundo. A Federação podia organizar por volta do dia 31 de Outubro, anualmente no Estoril onde há uma avenida com o nome de Alekhine, por exemplo no Casino, uma festa do xadrez nacional. Alexander Alekhine merece.













-

Bibliografia:
1.Авербах Ю. Л. Алехин, Александр Александрович в энциклопедииКругосвет
2. Алексеев А.А. Последняя партия маэстро. 2010.(ulpius@yandex.ru)
3. Алехин А.А. На пути к высшим шахматным достижениям. М., ФиС,1991
4. Алехин, Александр Александрович. Википедия,2010
5. Боголюбов, Ефим Дмитриевич. Википедия, 2010
6. Ботвинник М.М. Аналитические и критические работы. Воспоминания. М.,ФиС, 1987
7. Ботвинник, Михаил Моисеевич. Википедия, 2010
8. Взгляд Шипова. Александр Алехин. ChessPro.ru
9. Гарри Каспаров. Мои великие предшественники, т. I. М., 2003
10. Капабланка, Хосе Рауль. Википедия, 2010
11. Котов А.А. Шахматное наследие Алехина, тт. 1–2. М., 1982
12. Кропман В. Трагедия гения. Еврейская газета. 2006, N 3 ( 43)
13. Линдер В.И., Линдер И.М. Короли шахматного мира. М., 2001
14. Мартынов А. Е. Александр Алехин - судьба гения. 2005. www.kastornoe.newmail.ru
15. Матч за звание чемпиона мира по шахматам 1927. Википедия, 2010
16. Международная шахматная федерация, Википедия, 2010
17. Михальчишин А. Неизвестный Ефим Боголюбов. ChessPro.ru
18. Носик Б. Тайны разбитого надгробия. Звезда. М., 2006, N 9
19. Ободчук А. Королевская галерея. “Спорт- регион”. Непобежденный чемпион. 2008, N13
20. Панов В. Н. Капабланка. 3- е изд. М., ФиС, 1970.
21. Спасский Б. Интервью; planeta.rambler.ru; 2008
22. Ткаченко С. Спаситель Алехина. ChessPro.ru/ Энциклопедия
23. Факты и комментарии. 31.10.2003. Статья международного гроссмейстера Д.Комарова
24. Флор С. Непобежденный. www.chessbalakovo.ru
25. Чарущин В. Черный пиар в истории шахмат. www.bs-chess.com/lectures
26. Чащихин В. Альманах “Ревизия шахмат”, выпуск N18 “Дело А.А.Алехина “
27. Чащихин В. Альманах “Ревизия шахмат”, выпуск N3 “Развенчание”, (М.,МДЦ Оригами 1997)
28. Чащихин В. Альманах “Ревизия шахмат”, книга 7-я “ Бессмертие”, М.,1999
29. Чащихин В. Чемерису /Шахматный материал про А. Алехина/,2010
30. Чащихин В.
«Контрудар», Новый Люпи (МДЦ Оригами, 2005)
31. Черняк В. Г. Уравнения со многими неизвестными. “64- Шахматное обозрение” N4, 2006
32. Эйве М., Принс Л. Баловень Каиссы. М., ФиС, 1990
33. Эйве, Макс. Википедия, 2010
34. 64- Шахматное обозрение” N 18, 1991
Прослушать
На латинице